domingo, 6 de julho de 2014

"Na minha fraqueza, tornas-me forte. Só no Teu Amor me tornas forte, só na Tua Vida, me tornas forte. Na minha fraqueza, fazes de força em mim!"

Há cerca de quatro meses dei entrada no serviço de urgência do Hospital de São Teotónio em Viseu. Depois de me ter queixado à minha médica de família de uns "caroços" que tinha na cara e no pescoço, fui mandado imediatamente para as Urgências.
Depois de uma tarde inteira e metade da noite nas Urgências, de realizar exames e de quase desesperar (se não é que desesperei), fiquei a saber que tinha de ser internado para realizar mais alguns exames.
Três dias internado no setimo andar, sem realizar qualquer tipo de exame, fui mandado para casa, tendo de voltar posteriormente, para realizar uma biópsia. Não posso negar o medo que senti: a minha primeira operação... E eu que gostava tanto dessas coisas...

Depois de realizar a tão bendita biópsia e ainda agarrado à bengala, fui fazer uma PET, que é uma espécie de TAC mas que leva um químico radioactivo para realizar contraste a todo o lugar onde chega o sangue. A primeira coisa que me dizem: o exame tem um tempo de preparação de 3 horas... OMG! A minha paciência tem sido tão pouca e agora ainda ter que estar a levar com soro durante 3 malditas horas! Mudei, literalmente, de cor!
Exames feitos, ter de esperar novamente por resultados.

9 de Maio: ligam-me do hospital a dizer que tenho de repetir a biópsia, porque a primeira deu inconclusiva. Que chatice, ter de voltar para o hospital, ter de ser operado novamente, e custou tanto da última vez... 12 de Maio sou internado, dão-me um comprimido e o que me lembro depois são somente flashes... No dia seguinte dão-me alta e volto para casa por tempo indeterminado.

Eis que chega o dia 20 de Maio e tenho uma consulta de Hematologia às 9:30. Passam das 11:30 quando sou chamado ao gabinete e a médica me diz que não tem nada para me dizer, pois ainda não saíu o resultado da biópsia. Balde de água fria, totalmente. Saio do hospital com a cabeça a ferver, acho inadmissível. Duas horas depois, quando me estou a sentar para almoçar, toca o telemóvel. É do hospital! A médica diz-me que já tem o resultado da biópsia, para lá voltar no dia seguinte. É agora: ou as minhas suspeitas se confirmam ou desaparecem. Duas horas depois, a acabar de chegar à porta de casa, nova chamada do hospital, para lá voltar nesse mesmo dia! Pânico! É hoje, não passa de hoje. Como vou reagir, o que é, a reacção da minha mãe... Tantas questões se colocaram na minha cabeça.

Acabaram-se as esperas! Chego ao hospital, entro no gabinete e a médica diz-me que tenho um linfoma, que vou começar quimio, que me pode cair o cabelo, tudo aquilo que se diz naquela hora! Senti-me a cair num buraco fundíssimo, mas rapidamente tive de sair dele. Não podia permitir que isto me destruísse, que destruísse os meus pais, os meus irmãos, etc. Acho que reagi de uma forma um quanto ou tanto parva. Brinquei com a situação, exigi que não houvesse choros à minha beira, agarrei-me à vida, agarrei-me a Deus!

Quase dois meses depois de ter iniciado a quimio, aqui estou, a relatar como de um momento para o outro descobrimos que temos cancro, como aprendemos a lidar com isso. Não quero ser diferente mas também não escondo que o tenho, que faz parte da minha vida! Relato estes factos, falo de cancro, não para que tenham pena de mim, não para chamar à atenção, mas para que vejam como podemos vencer este mal que de várias formas tem ceifado vidas, como o tenho encarado. Escrevo e partilho na esperança de poder ajudar.

Faço-o porque há sempre Estórias no meio da História!

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