segunda-feira, 14 de julho de 2014

“Não sei, se andei depressa demais; mas sei, que algum sorriso eu perdi. Vou pedir ao tempo, que me dê mais tempo…”

Quase mais um ciclo de tratamentos terminado. O terceiro de seis. Quarta mais um dia de quimio e findo este ciclo. Na sua maioria, daqueles que conseguia sentir, os gânglios desapareceram.

Desta vez, a quimio não me deu muito trabalho. Somente náuseas, indisposição e muito sono. Dois dos três dias de quimio desta semana foram passados a dormir. O terceiro, passado a rir. Passado a rir porque encontrei mais dois cúmplices: a Eliana e o Luís. Dois jovens, que como eu, lutamos contra Hodgkin. Cada um com seu caso, estado, mas a lutar contra o linfoma. E com eles, uma vez mais, brincamos com a doença, rimos como companheiros, criámos animação à nossa maneira.

Agarrados a tubos e saquinhos pretos, fomos conhecendo a história de cada um, as proibições da médica, as reacções aos tratamentos. Também eles lutam contra as incertezas, lutam por ter um sorriso no rosto, agarram-se à vida e não têm medo de falar da doença.

Coincidência ou puro destino, mais provável que tenha sido vontade de Deus, juntámos-nos na mesma sala, onde brincámos com enfermeiros e médicos, que com curiosidade vinham à sala, com aqueles que estavam à nossa volta. Uma trupe boa que ali se juntou, um jardim ou até um piquenique que ali se formou.

Sim, são estes momentos que nos dão força para continuar, mesmo quando nos sentimos de rastos, quando já nada parece fazer sentido.

São momentos assim… Mas também aqueles que passamos com quem amamos, com quem trazemos no coração. E é sempre tão reconfortante estar com essas pessoas, sentirmos-nos acarinhadas, amadas, sem o preconceito do «ai coitadinho».

Sinceramente, quero comigo pessoas que não tenham «pena» de mim, que não me achem um coitadinho. Não tenho medo, nem me incomoda, falar sobre a doença. Mas é-me muito mais importante relacionar-me com quem quer relacionar-se comigo por esta ou por aquela razão, deixando de lado o coitadinho.

Já o disse, e continuarei a dizer que não quero ninguém comigo só por pena; porque um dia deixo de o ser e sou de novo colocado à margem. Entendo, percebo e em muito aceitei os silêncios, mas não tolero que agora volte a ser tudo como antes, somente porque tenho um cancro. Não! Comigo isso não funciona mais. Sou educado, cordial, sem desrespeitar ninguém, mas espero que o façam comigo também.

Aos meus amigos e familiares, a todos os que têm estado junto a mim, sem olhar para mim com «lágrimas nos olhos», o meu muito obrigado. Não imaginam o quão importantes têm sido, a enorme força que me dão para continuar. Aos outros peço desculpa se firo alguma coisa, mas, caso não saibam, eu mudei. Não me nego a conhecer pessoas novas, mas que não seja por misericórdia.
Obrigado, do fundo do coração, porque há sempre Estórias no meio da História!


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