domingo, 2 de novembro de 2014

Existem, na nossa vida, pequenos gestos, atitudes e/ou palavras que nos marcam: umas vezes de forma positiva, outras de forma menos positiva. Mas a verdade é que ficam gravadas no nosso coração, no nosso sentir.

Há sensivelmente meio ano que comecei esta minha luta contra o cancro. E, inevitavelmente, isso foi motivo de uma grande transformação na minha vida, como já o referi algumas vezes. Momentos de alegria, momentos de maior tristeza, risos ou choros, têm demarcado a minha vida. A vida começou a ser vista de outra maneira, a ser vivida, sentida de forma única. O rever a vida é uma constante, analisamos o passado, o presente e queremos acreditar numa projecção no futuro. Mas a incerteza é maior que as certezas.
Quando comecei os tratamentos, a expectativa era que ao fim de seis ciclos de tratamento, estaria já livre deste fardo. Os planos iam crescendo, as perspectivas aumentando. Mas a vida leva o seu tempo, as expectativas são ou não superadas. E no fim desses seis ciclos tudo voltou a cair por terra. A doença não estava a regredir, os tratamentos tinham que continuar, os planos a desaparecer. Sinceramente, esta terá sido a altura em que me fui mais abaixo. Durante umas semanas não queria falar, não queria existir. Mas a luta tem que continuar, porque numa guerra não se ganham todas as batalhas. Algumas também são derrotas.

Depois de cinco semanas sem tratamento, voltei de novo à carga com um novo plano de tratamentos de quimioterapia. Agora era diferente de tudo o que já tinha realizado. Cinco dias seguidos de tratamento, 24 sob 24 horas de químicos, mais de 120 horas de hospital. Não havia escapatória possível: ou enfrentava ou enfrentava. E nesta impossível hipótese de fuga surgiam dois caminhos: encarar bem os tratamentos ou deixar que eles me derrotassem.
Fui para o hospital, mas achei que isso não devia ser publicitado. Não queria espalhar aos sete ventos que ia, simplesmente… não sei. Talvez aquele medo de me estar a fazer de “doentinho”. Mas a verdade é que se acabou por saber.
Não vos consigo esconder a alegria que senti nestes dias ao ver-me rodeado de amigos que faziam questão de me visitar, de me mimar.
Sei que certas coisas não se agradecem, mas eu sou um eterno “agradecedor”! Por mais longos que os meus dias sejam, ou por mais curtos que eles venham a ser, não poderei esquecer os gestos, palavras, mimos e afins que me fizeram sentir.
Sei que existem nomes que deviam ser mencionados, mas por respeito e por amor não o vou fazer. Simplesmente quero agradecer a todos aqueles que me visitaram, que me telefonaram ou enviaram mensagem; agradecer a todos os que me fizeram, de uma maneira ou de outra, sentir amado. Uma vez mais, o meu mais profundo e sincero obrigado. Não sei como vos agradecer, mas eternamente serei grato. Convosco, a minha luta torna-se mais fácil, convosco eu irei conseguir.


A amizade é algo que torna tudo tão belo, porque há sempre Estórias no meio da História!