Existem,
na nossa vida, pequenos gestos, atitudes e/ou palavras que nos marcam: umas
vezes de forma positiva, outras de forma menos positiva. Mas a verdade é que
ficam gravadas no nosso coração, no nosso sentir.
Há sensivelmente
meio ano que comecei esta minha luta contra o cancro. E, inevitavelmente, isso
foi motivo de uma grande transformação na minha vida, como já o referi algumas
vezes. Momentos de alegria, momentos de maior tristeza, risos ou choros, têm
demarcado a minha vida. A vida começou a ser vista de outra maneira, a ser
vivida, sentida de forma única. O rever a vida é uma constante, analisamos o
passado, o presente e queremos acreditar numa projecção no futuro. Mas a
incerteza é maior que as certezas.
Quando
comecei os tratamentos, a expectativa era que ao fim de seis ciclos de
tratamento, estaria já livre deste fardo. Os planos iam crescendo, as
perspectivas aumentando. Mas a vida leva o seu tempo, as expectativas são ou
não superadas. E no fim desses seis ciclos tudo voltou a cair por terra. A
doença não estava a regredir, os tratamentos tinham que continuar, os planos a
desaparecer. Sinceramente, esta terá sido a altura em que me fui mais abaixo.
Durante umas semanas não queria falar, não queria existir. Mas a luta tem que
continuar, porque numa guerra não se ganham todas as batalhas. Algumas também
são derrotas.
Depois
de cinco semanas sem tratamento, voltei de novo à carga com um novo plano de
tratamentos de quimioterapia. Agora era diferente de tudo o que já tinha
realizado. Cinco dias seguidos de tratamento, 24 sob 24 horas de químicos, mais
de 120 horas de hospital. Não havia escapatória possível: ou enfrentava ou
enfrentava. E nesta impossível hipótese de fuga surgiam dois caminhos: encarar
bem os tratamentos ou deixar que eles me derrotassem.
Fui para
o hospital, mas achei que isso não devia ser publicitado. Não queria espalhar
aos sete ventos que ia, simplesmente… não sei. Talvez aquele medo de me estar a
fazer de “doentinho”. Mas a verdade é que se acabou por saber.
Não
vos consigo esconder a alegria que senti nestes dias ao ver-me rodeado de
amigos que faziam questão de me visitar, de me mimar.
Sei
que certas coisas não se agradecem, mas eu sou um eterno “agradecedor”! Por
mais longos que os meus dias sejam, ou por mais curtos que eles venham a ser,
não poderei esquecer os gestos, palavras, mimos e afins que me fizeram sentir.
Sei
que existem nomes que deviam ser mencionados, mas por respeito e por amor não o
vou fazer. Simplesmente quero agradecer a todos aqueles que me visitaram, que
me telefonaram ou enviaram mensagem; agradecer a todos os que me fizeram, de uma
maneira ou de outra, sentir amado. Uma vez mais, o meu mais profundo e sincero
obrigado. Não sei como vos agradecer, mas eternamente serei grato. Convosco, a
minha luta torna-se mais fácil, convosco eu irei conseguir.