terça-feira, 24 de junho de 2014

"E como está, agora, a sua fé? Mais alta do que nunca!"

Na maioria das vezes que algo nos acontece na vida, e que não é do nosso agrado, culpamos Deus pelo acontecimento! Pressupomos que é um castigo, um "ajuste de contas", e questionamos o porquê de Deus nos fazer atravessar esta ou aquela desventura, este ou aquele sofrimento. Qual o mal que cometemos para tal, quais as razões, o porquê de me acontecer a mim e não a outros que são, pressupomos, piores que nós. Porquê, Deus? Porquê?

Sentimos revolta, deixamos de acreditar naquilo em que tanto acreditámos. Os nossos alicerces tremem e por vezes até desmoronam. Colocamo-nos na defensiva, fechamo-nos para o mundo, para as pessoas. E desmoronamos. Como pode o Deus que proclamam ser bom, fazer-me tal coisa? Como pode o Deus que é amor, permitir que isto me aconteça? Não existe Deus, porque se existisse, isto não acontecia... Mas como pode Deus ser responsabilizado pelo mal que existe no mundo? Como pode o Amor ser questionado, acusado de ser responsável por tal coisa? Não pode, porque não é Ele o causador de nada disto, a não sermos nós, humanidade, que não sabemos usar o livre arbítrio que Ele nos concedeu na Sua enorme bondade e amor.

Aprendi, ao longo destes anos, que Deus é amor, é bondade, é tudo o que há de bom. E não só o aprendi, como o vivi e o senti.
Aprendi que Deus nos criou, nos colocou neste mundo e, porque nos ama, nos deu a chance de escolhermos entre o que é bom e o que é mau, de tomarmos as nossas próprias decisões. E aí eu vejo o Seu enorme amor. Porque amar também é isso: é dar espaço, deixar que cada um faça as suas próprias decisões, e, além de boas ou más, continuar a amá-lo.

Como posso eu, no meio da minha doença, ver Deus? Vejo-O nas pessoas que me tratam, nos outros que estão a fazer tratamento e precisam de uma palavra... Vejo-O no que me rodeia, na natureza que me rodeia, no bom que é acordar cada dia! E que bom que é senti-l'O nestas pequenas coisas...

Mas voltando ao tema inicial: será Deus responsável pelo mal? Não, decididamente não! Ele ama-nos, e em tudo quer se sejamos fortes e superemos as adversidades que nos surgem na vida, quer por opção, quer por causa dos outros. E é d'Ele que me vem a força para sorrir todos os dias, de ter coragem para enfrentar os tratamentos e o pós, de dar força aos outros para que eles não caiam! Sem Deus, não sei onde e como estaria, não conseguiria encontrar um sentido, ter "algo" em que me agarrar. A verdade é que Ele me deu o dom da vida, o maior presente que podemos receber, e eu quero vivê-lo intensamente, sem nunca me esquecer de quem me o deu.

Bem, mas qual o meu objectivo com tudo isto? Principalmente, fazer entender, a quem ler estas frases, de que Deus não é culpado do mal, não é Ele o causador do nosso ou do sofrimento dos outros, mas somente nós que com as nossas acções, propositadas ou não. Não culpemos Deus, mas abramos ainda mais o nosso coração a Ele, deixando que Ele seja o principal alicerce e fonte das nossas forças, da nossa vida.

Tenho começado os textos deste blogue sempre com uma frase inicial, uma chave. E nestas frases finais, queria explicar a de hoje. No dia seguinte a ter recebido a notícia da doença que tenho, tive de ir a Coimbra fazer um exame. Falando com a médica, a mesma questionou-me sobre os meus estudos, no qual, obviamente, referi a minha passagem pelo seminário. Quase no fim da conversa, a médica perguntou-me como estava a minha fé. Não tive medo de lhe dizer que estava no topo, pois Deus não é responsável pela minha doença. Finalizamos a conversa e ela disse-me que eu a tinha feito ganhar o dia. Não disse grande coisa, mas penso que consegui transmitir-lhe um pouco da minha fé... Assim espero.

Findo, deixando um pedido: não culpem quem não tem culpa do mal que acontece. Acreditem que Deus nos pega ao colo neste momento, como relata a pequena história "Pegadas na Areia"! Acreditem, Deus está convosco, e isto não é conversa fiada, pois se abrirem o coração a Deus, senti-lo-ão!

Vivam, porque há sempre Estórias no meio da História!

sábado, 21 de junho de 2014

"Há decisões que tomamos porque nos fazem bem a nós, independentemente da opinião dos outros."

Há cerca de uma semana que decidi rapar totalmente o cabelo. Não, ele ainda não começou a cair totalmente, mas começou! E desde o princípio que eu decidi que não o queria ver cair. Poderia demorar muito até que caísse na totalidade, como poderia demorar pouco. Mas eu decidi não o ver cair. Não consigo prever o meu estado amanhã, daqui a duas semanas, ou um mês. Não sei como estarei fisicamente, mas mais importante, psicologicamente. E, mais importante, era o choque que isso poderia provocar em mim. E choques já tive que chegue neste último mês.

Contudo, não consigo deixar de me aperceber do choque que esta decisão tem provocado nas pessoas com quem me tenho cruzado. A primeira reação é de estranheza, o que eu compreendo. A segunda é sempre de que o cabelo já caíu... E imagino o que quererá isso dizer na cabeça das pessoas.

Mas que quero eu dizer com isto?
Bem, há quem tenha coragem para ver o cabelo desaparecer, outras que simplesmente o deixam cair. Sem querer julgar ninguém, acho que este gesto é sempre um passo de coragem, uma melhor forma de enfrentar os efeitos do tratamento. Existem inúmeras pessoas que amam o seu cabelo, nas quais eu me incluía, sem nunca o assumir. O cabelo faz parte da nossa personalidade, faz parte da nossa imagem. Imaginar que podemos ficar sem ele é um pesadelo.
Mas num determinado momento da nossa vida descobrem-nos uma doença, dizem-nos que temos de fazer quimioterapia e que existe a larga possibilidade de nos cair o cabelo. A minha reacção? "Mãe, é desta que eu rapo o cabelo!" O que senti? "O meu cabelo..."
Primeiro decidi que não iria vê-lo cair, e rapei a cabeça. Ver todo aquele cabelo a cair-me pelos ombros, espalhado pelo chão... Pensei que assim não seria tão mau... Mas, e mais uma vez um mas, comecei a dar-me conta de que ele, o cabelo, já me estava a cair. E não era só o cabelo, mas também a barba e outros pêlos... Eu decidi não o ver caír, e agora estou a ver o que não desejava. Já tinha notado que a barba não estava a crescer como normalmente, pêlos caídos onde não devia. Não podia mais continuar assim, tinha de tomar uma atitude. Nem é tarde nem é cedo. As giletes já não servem só para a barba...

Eis-me agora totalmente sem cabelo. Que diferença. Mas mais um sinal de doença. É inevitável. Ainda não o havia rapado totalmente e já me questionavam o porquê. Mas foi uma decisão!

Agora habituei-me e nem vou negar que até gosto de me ver assim. Contudo compreendo o quão difícil pode ser. Mas gostaria tanto de que as pessoas me olhassem, bem como às outras inúmeras pessoas, sem aquele sentimento de pena que lhes é tão visível nos olhos, nas reacções. Não mordemos, não transmitimos nada de mau. A nossa doença não se pega, não é transmissível. Somos normais como tantos outros, só que temos uma doença no organismo, e podemos ser carecas durante um tempo. Acreditem quando digo que magoa ver nos olhos dos outros a pena que sentem, o sentimento do "aí coitadinho"! Isso não ajuda, mas disso falarei noutra altura...

Isto, porque há sempre Estórias no meio da História!

quinta-feira, 19 de junho de 2014

"In principio erat Verbum et Verbum erat apud Deum, et Deus erat Verbum..."
(No principio era o Verbo e o Verbo estava junto de Deus, e Deus era o Verbo... [João 1,1])

"Estórias do Coração" nasce na e da viragem da minha vida, num ponto em que tudo muda.

"Estórias do Coração" é um blogue onde o desabafo, a coragem ou a falta dela serão o pano de fundo, da estória de uma luta diária contra o inimigo de tantas pessoas, na causa de morte de outras tantas, do sofrimento de metade, da vitória de uma maioria assumida e com medo de assumir. Uma luta que nos leva ao fundo de nós próprios, que derrota todos os nossos soldados e nos faz repensar a vida, olhá-la de uma forma tão diferente. Uma luta que arrasa com todos os nossos alicerces, que nos faz questionar, todos os dias, as certezas que tínhamos. É uma prova de fé, uma prova de coragem e amor à vida.

"Estórias do Coração" são pedaços da minha vida, vivências diárias, sofrimentos e angústias, alegrias e júbilos. Não será um mundo ilusório, onde tantas vezes me tentei esconder, com palavras e sonhos. Não! "Estórias do Coração" é a realidade, com que quebrarei as minhas barreiras, tornar-me-ei mais forte e sem medo de dizer o que penso de forma direta e sem rodeios.

"Estórias do Coração" serei eu e as páginas brancas da minha vida. Isto porque há sempre Estórias no meio da História!