Já se passaram muitos dias. Por exemplo: há muitos dias que
não escrevo para o blogue, que tem andado totalmente parado. Há muitos dias que
não vejo certos amigos ou que não falo com eles. Há mais de 730 dias que estou
em casa. Há quase 730 dias que soube que tinha um cancro. Há mais de 365 dias
que fiz o transplante. Há precisamente 365 dias saiu a notícia sobre mim no
Jornal de Lafões.
Hoje, relendo essa notícia, sinto que tenho muito mais a
dizer que aquelas palavras, e que tantas vezes me falta a coragem, a paciência
ou o tempo para me sentar a escrever sobre esse assunto.
Deparei comigo a tremer quando li uma palavra: CANCRO. É
verdade que já lá vão quase dois anos que descobri que tinha um cancro, um ano
depois do transplante e quase um ano que soube que a doença estava em remissão
total. Contudo, a palavra cancro ainda me assusta um pouco. Não que eu tenha
medo dela, é só uma palavra, ou daquilo que ela simboliza. Mas assusta-me o
mal, o tanto mal que ela tem feito e que na minha vida se tem tornado
relevante. Sempre que ouço que este ou aquele tem cancro ou morreu dele, sinto
que uma parte grande de mim se entristece. Ainda não há muito tempo, fui ao
funeral do irmão de um grande amigo e mestre. Senti que uma parte de mim se
enlutava completamente. Não há palavras, não há sorrisos possíveis, mesmo que
muito me esforce.
Tenho-me deparado com vários casos de cancro: um amigo a
lutar contra um, outro no pós transplante. Uma amiga que neste momento está em
Coimbra no transplante, outra que ainda luta contra o cancro, um amigo e
companheiro que está quase quase a ir para o transplante. É claro que não são
só tristezas. Alegra-me vê-los a vencerem o maldito caranguejo, a retomarem as
suas vidas, a serem pessoas melhores.
Mas ainda receio essa palavra. Ainda tremo quando a ouço.
Mas que fazer? Viver com medo dela? Para quê?
Relembro algumas palavras que disse naquela altura, e que
ainda hoje são tão verdade para mim como o sol nascer todos os dias e iluminar
os nossos dias. A vida é para ser vivida, aproveitada. Independentemente de
termos uma doença, uma deficiência qualquer. Se o aproveitar os dias está ao
nosso alcance, porque não o fazer?
Existem dias muito importantes na nossa vida. Dias menos
bons! Há datas que nunca vamos esquecer. Aos meus 25 anos, não me lembro de
tudo o que fiz, de tudo o que disse, por onde andei ou passei. Tenho memórias,
flashes de acontecimentos. Mas os últimos dois anos não serão esquecidos.
Lembro-me de todos os dias, todos os momentos que passei, todas as horas que
chorei. A vida são sorrisos, e é isso que importa. Se a morte me mete medo?
Não! E no dia em que ela chegar por esta ou aquela razão, quero ser recordado
com sorrisos, que as pessoas que se lembrarem de mim, se lembrem daquele rapaz
que não deixava de sorrir, mesmo quando o coração chorava.
Mas agora, apesar da chuva, vou aproveitar o dia ao máximo!
Sejam Felizes e não deixem de viver! Um grande beijo e abraço e até um futuro
breve! E não se esqueçam que há sempre Estórias no meio da História!!!
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